Presidente da União Africana apela à persistência na busca pela paz no continente
O Presidente da República e da União Africana, João Lourenço, apelou, esse sábado, 24 de Maio, às lideranças africanas a trabalharem arduamente, sem desistência, nem pessimismo, acreditando que a paz definitiva chegará às regiões em conflito no continente.
Falando num encontro com o corpo diplomático africano acreditado no Brasil, inserido na agenda da visita de Estado ao país sul-americano, João Lourenço fez referência aos conflitos na região do Sahel, dos Grandes Lagos, Sudão, ao corno da África e em Moçambique.
Lamentou o facto de o continente, que celebrou, neste no dia 25 de Maio, o seu dia, enfrentar ainda grandes desafios para o desenvolvimento, sobretudo devido à questão da insegurança.
Frisou que, quando se está a apenas cinco anos da data em que supostamente deveriam ver silenciadas as armas, portanto 2030, ao invés de se verificar a redução das guerras, assiste-se o surgimento de novos conflitos armados.
João Lourenço lembrou que há anos, quando se falasse de conflitos em África, olhava-se sobretudo para a região do Sahel, onde foram constituídos grupos terroristas que desestabilizavam os países da região, mas hoje se registam com preocupação as mudanças inconstitucionais de governo.
“Como se não bastasse, outros conflitos ou surgiram ou perduram. Velhos conflitos como, por exemplo, o do Leste da República Democrática do Congo, onde sempre proliferaram forças negativas, mas que acabaram por combinar com o confronto quase directo entre países vizinhos, nomeadamente entre a RDC e o Rwanda”, afirmou.
Apontou também o conflito no Sudão, um país cuja situação de guerra preocupa, assim como o Sudão do Sul, onde a paz também é bastante frágil e que “de quando em quando vai nos pregando alguns sustos”.
Em relação à Moçambique, disse que conhece também uma situação de terrorismo, nomeadamente na província de Cabo Delgado, o que significa dizer que uma das grandes responsabilidades da União Africana é trabalhar no sentido de conseguir alcançar esse objectivo do calar das armas em todo continente.
Os países do corno da África, nomeadamente a Somália, também preocupam a União Africana, uma vez que o terrorismo e não só tem também impedido o desenvolvimento daquela parte do nosso continente”, apontou.
Desenvolvimento
Segundo o Chefe de Estado, um outro desafio que o continente "berço" enfrenta é o do desenvolvimento, que tem alguma ligação com a situação de paz e segurança. “O desenvolvimento há-de acontecer mais facilmente ali onde há paz.
Costuma-se dizer que o capital, o investimento é alérgico ao troar dos canhões, é alérgico ao conflito. Onde há conflito o investimento não surge”, disse.
Neste particular, voltou a defender a necessidade de mais investimento em infra-estruturas para garantir o desenvolvimento. Sustentou que não é por mero acaso que promoveu um encontro, em Luanda, entre a AUDA-NEPAD e a Aliança das Instituições Financeiras de Crédito Africanas.
Informou aos diplomatas que este encontro, que teve lugar há menos de 15 dias em Luanda, foi bastante valioso, uma vez que conseguiu-se, pela primeira vez, juntar, numa única reunião, as diferentes instituições financeiras de crédito africanas.
Segundo o Presidente João Lourenço, os gestores saíram de Luanda com a responsabilidade de ajudarem a liderança da União Africana, através da AUDA-NEPAD, a mobilizar os recursos financeiros para que sejam realizados os investimentos em infra-estruturas rodoviárias, ferroviárias, portuárias, aeroportuárias, de produção e transportação de energia, de água, de telecomunicações, de formas a garantir que o nosso continente possa ter um desenvolvimento sustentável.
Deplorpu a “situação ridícula que se vive hoje em que o cidadão de um país africano, para se deslocar a outro país africano, não consegue se meter no seu carro ou apanhar o autocarro e, por uma autoestrada, ligar o seu país a outro”.
Deste modo, apelou aos africanos a ter a ambição de fazerem os seus países também industrializados, a exemplo, do que acontece na Europa, América e Ásia.
Porém, disse que não é possível industrializar-se um país sem energia, pelo que é fundamental ter-se a visão de investir neste sector.
“Paradoxalmente, é o nosso continente que tem os maiores rios, onde poderiam ser construídas barragens hidroelétricas para produção de energia suficiente para o continente e, consequentemente, as linhas de transportação para levar a energia produzida para as zonas do consumo”, asseverou.
Ao invés disso, a electrificação do continente conhece taxas muito baixas. “Às vezes falta-nos a visão de o fazermos para que possamos, então, ter a energia suficiente para industrializar o continente, para transformar as matérias-primas, dar emprego aos jovens e, desta forma, evitarmos aquele espetáculo triste que todos os dias vemos dos nossos jovens a morrerem no Mediterrâneo à procura do paraíso na Europa, onde, na maioria dos casos, ou não chegam lá ou se chegam, é uma ilusão muito grande porque o tal paraíso, afinal, não existe”, alertou.