Por
Bienal de Luanda
30, Março 2023

Barthélémy Toguo

Leia mais sobre Barthélémy Toguo - https://www.barthelemytoguo.com/ 

 

Ele usa o desenho, aguarela, pintura, escultura, fotografia, instalação e performance para questionar a nossa humanidade. Através das suas criações no cruzamento de culturas, ele explora as disfunções do mundo a fim de melhor o denunciar e questiona o estatuto dos estrangeiros, migrantes, imigrantes e a dificuldade para eles em construir uma identidade.

 

"A cultura é uma arma para a paz" 


 

1. Foi recentemente nomeado Artista da UNESCO para a paz pela Diretora-Geral da UNESCO, Senhora Audrey Azoulay, o que significa esta nomeação para si?

A minha nomeação como Artista da paz pela Senhora Audrey Azoulay Directora-Geral da UNESCO, deu-me muita alegria e conforto nas minhas escolhas como cidadão e artista. 

Este reconhecimento permite-me intagrar uma comunidade bem estabelecida de atores da paz, cuja diversidade de ações suscita já a minha curiosidade em termos de partilha de experiências, de transmissões no terreno. Sem dúvida, ações a uma velocidade de realização superior, graças às redes bem implantadas. 

É uma missão que se exerce dentro de um quadro específico que consiste em trazer de volta ao centro a luta pela causa humana.                      
 

2. Você é um artista multidisciplinar: você desenha, aquarela, pinta, mas também escultura e fotografia. O que pretende transmitir nas suras diferentes obras?

A cultura é uma arma para a paz. [Ela permite de] "estender a mão" às populações oprimidas nos quatro cantos do mundo, como durante o apartheid, as guerrilhas, a Primavera Árabe, o Genocídio do Ruanda, ou no Congo. 

A série "Head Above Water" é um exemplo de uma obra artística   em perpétua expansão. A cartografia desta série é um sintoma dos males que assolam o mundo do século XXI, "Head Above Water" é uma série que continua. 

[É] um desafio a ser assumido com um programa comum a ser transmitido onde os bens da liberdade, do conhecimento, da educação, da luta contra o obscurantismo, do desejo de humanidade, do respeito  às normas levem à paz e à emancipação. 

 

3. Você aborda em suas obras temas como a identidade ou a migração, pode nos dizer mais?

Sou um artista testemunho do mundo que me rodeia e no qual circula, porque viajo muito. Então eu vejo e devolvo a memória das pessoas esquecidas, da natureza que eu celebro em minhas criações.

 

 

4. Como promover mais os talentos artísticos africanos?

Espero que políticos, colecionadores, artistas, funcionários de todos os tipos, repensem as políticas culturais e sociais.

Existe um desequilíbrio flagrante entre artistas do continente (diaspóricos e afrodescendentes) que pode ser explicado pelo aumento de artistas e pela ausência de uma política cultural e de patrocínio de empresas, galerias, colecionadores, museus, leiloeiras adequadas para apoiar esta produção.

Hoje, grande parte do apoio encontra-se no Ocidente, as obras estão em museus, em colecções privadas do outro lado, legitimamente e pagas a um preço alto !! Devemos nos precaver contra investimentos medíocres e resignação política no campo da arte, que está sendo confiscado.

 

 

5. Pode falar-nos do seu projecto cultural nos Camarões «Bandjoun Station»? Qual é a ambição deste projecto?

Após a constatação de que não havia museus suficientes em África, e que a arte clássica africana era apresentada exclusivamente em museus ocidentais, criei um espaço que mistura arte, os workshops, ou ainda as residências artísticas, bem como a agricultura biológica.

A  Bandjoun Station é de fato um projeto muito pessoal, localizado nas planícies altas a oeste de Camarões é chamado de "La Prairie". Este centro celebra a arte e a cultura em todas as suas formas. Uma residência para acolher influências de todo o mundo, artistas, coreógrafos, cineastas, etnólogos, historiadores, pesquisadores, curadores de exposições…

Esses convidados, em residência, realizam frequentemente os seus projectos com os habitantes da região, e em conexão com seu ambiente.

A Bandjoun Station [também] incentiva a população da planície a desenvolver uma agricultura saudável adequado para o consumo local: auto-suficiência alimentar, mas também uma importante plantação de café.  

 

 

6. Que mensagem (ns) de paz você gostaria de transmitir a todas as pessoas que lerem esta entrevista? 

A paz no século XXI é o respeito das normas comuns e das liberdades individuais, sem escrúpulos e sem doutrina do ódio. Orgulho-me de estar associado aos valores da UNESCO: igualdade, fraternidade, paz, que me comprometo a continuar a reivindicar e a transmitir através das minhas práticas artísticas, e das minhas acções públicas tanto em Bandjoun, nos Camarões como em todo o mundo. Meço a incidência da minha responsabilidade, enquanto artista plástico, em defender e levar valores defendidos pela comunidade dos artífices da paz.

Viver juntos é formar um vínculo que determina o carácter único da existência social do homem graças à cultura cuja expressão principal se situa nas artes e nas ciências.

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